Marcelo Sousa News

A força da Mulher Caririense no rádio "Solta o cabelo e vem ser feliz com Ricássia Muniz" Conheça um pouco da história de vida, desta mulher Santanense da região do Cariri Oeste para o mundo•>

Infelizmente, ainda é preciso um pouquinho de esforço mental para conseguir lembrar de uma quantidade considerável de vozes femininas no rádio do Cariri, não é? Dentre esse pequeno número, está uma voz que há quase dez anos fez do microfone e das ondas radiofônicas verdadeiros instrumentos de transformação: a de Ricássia Muniz. Natural de Santana do Cariri, ela abriu as páginas da sua vida para o nosso site e contou como tudo começou e o que passou para, finalmente, conseguir desembaraçar os nós, “soltar o cabelo e ser feliz”.

O rádio entrou na vida de Ricássia sem ela sequer perceber: literalmente feito brincadeira de criança. Durante sua infância no sítio Juá, em Santana do Cariri, ela brincava com seu irmão Rian, aos finais de semana, de imitar locutores e apresentar programas. Os equipamentos usados? Baldes e garrafas PETs. “No finalzinho da tarde, eu sempre brincava com meu irmão Rian. A gente pegava baldes, um litro [garrafa]… algo que abafasse a voz e eu ficava disputando com ele, imitando locutores, vendo quem tinha mais criatividade. Lá eu já brincava de apresentar um “Big Show”, que era o nome do programa.”, conta.

Mas, feito a história da Cinderela, Ricássia não começou a carreira numa carruagem com cavalos brancos: ela ralou – e muito. A pequena cidade de Santana do Cariri tinha uma rádio chamada Pontal FM. Na época, as redes sociais não existiam e toda a cidade se informava e se divertia através da programação da rádio. Ricássia conta que fez teste para entrar lá, mas não conseguiu de primeira. A perserverança foi tanta, que ela tentou de outras formas fazer parte daquele universo: ela entrou como faxineira da rádio. “Até entrar na Pontal foi dessa forma, né? Fiz teste e não passei, depois consegui entrar como faxineira e, mesmo quando eu consegui conquistar o horário, eu continuei sendo a faxineira. Eu era a faxineira e locutora.”, explica.

Ela conta que muitas pessoas chegavam para pedir música e a abordavam, enquanto faxinava, pedindo para que ela entregasse o bilhetinho com o nome da canção para a locutora. “Quando as pessoas chegavam para pedir música na cartinha, eu estava limpando a rádio e elas diziam: ‘entrega a locutora’ e eu dizia: ‘sou eu’. Eu tinha que muitas vezes largar o balde ou a vassoura e ir pra o microfone pra mostrar que era eu mesma a locutora.”, relembra.

Ricássia em um café da manhã delicioso preparado para receber nossa equipe. (Foto: Renata Linard)

A mágica foi acontecendo aos poucos. A rádio Pontal não era devidamente legalizada e precisou fechar. Depois da primeira experiência como locutora, ela dominou os palcos da tradicional Festa de Senhora Santana do município, começou a gravar propagandas e vinhetas. Um dos seus grandes incentivadores foi o publicitário Allan Seixas, que hoje faz parte da equipe da TV Globo.  “A primeira pessoa que me incentivou, que me deu a oportunidade de gravar pelo menos vinhetas foi Allan Seixas e eu sou muito grata a ele. Eu lembro que a gente até brincava porque a gente gravava essas vinhetas mais de dez da noite e ele dizia ‘um dia eu vou gravar pra Globo’. E hoje ele está na Globo e eu estou no rádio, numa das melhores rádios aqui do Cariri.”, conta orgulhosa.

DA “RUA DO PEBA” PARA AS GRANDES RÁDIOS

Quando passou todo esse furor de gravação de comerciais e de apresentações de festas, Ricássia foi cursar Administração de Empresas, no Crato. Todos os dias ela fazia o percurso de 54 quilômetros entre as duas cidades. Uma das atividades que surgiram na faculdade foi a de gravar um comercial para uma empresa fictícia. Ricássia gravou, apresentou e surpreendeu pelo desempenho. Uma das suas colegas informou que a rádio Princesa estava fazendo seleção e a encorajou a participar: assim Ricássia fez. “Eu resolvi ligar para Princesa e saber como era esse teste, como era que eu faria pra participar e aí a pessoa pediu para eu fazer por telefone. Eu lembro que a secretária atendeu e passou para o diretor e ele pediu: ‘leia uma notícia pra mim’ e eu estava no escritório que eu trabalhava, na época, em Santana. Eu estava ali falando com ele, peguei uma revista e li a matéria, que era até sobre Pelé. Aí ele disse: ‘agora me ensina a fazer um bolo’, aí eu disse: ‘ih, agora você me pegou porque comer o bolo, eu sei. Mas fazer…[risos] Mas, como eu estava ligando do escritório que eu trabalhava, de repente chegou o filho do meu patrão e eu tive que desligar o telefone na cara do diretor. Quando ele saiu do escritório, eu tive que retornar pra pedir desculpas, né? E explicar a situação. Aí, enfim.. Eu sei que no final da tarde o telefone tocou e eram eles pedindo que eu fizesse ao vivo, que eu viesse ao Crato para fazer esse teste não só por telefone, mas pessoalmente. Aí eu expliquei que não dava porque eu trabalhava, não tinha como, eu era de outra cidade… Só que no dia seguinte o meu chefe pediu pra eu vir deixar uma documentação no Crato. Tinha que ser, né? Aí pronto: já que eu estava vindo pro Crato, resolvi o que eu tinha que resolver e fui lá [na rádio], me apresentei, disse que eu era a moça que tinha ligado um dia antes. Tinha um monte de gente lá para fazer os testes. Pediram para fazer uma redação também. Eu sei que eu fui a última a fazer. Quando eu fiz o teste, depois de uns 10 ou 15 minutos, o diretor da rádio perguntou se eu poderia fazer mais uma semana [de experiência]. Aí, eu tinha que pegar ou largar. Fui pra Santana, falei com meu chefe, disse que era alguma coisa sobre a faculdade e eu consegui. Vim, passei a semana fazendo a experiência e na sexta a dona da rádio disse ‘vá lá, resolva pra você começar segunda’. Aí eu fui pra Santana, tive que dizer que fiz o teste e que passei. O meu chefe foi super solícito e deu tudo certo. Vim para a Princesa e passei cinco anos.”, recorda.

Depois da rádio Princesa, Ricássia fez parte da rádio Jangadeiro, onde atuou no grade de jornalismo. “Lá foi bem puxado porque eles queriam alguém que já fosse da área de jornalismo e eu não tenho formação. Já passei duas vezes [para o curso] e não fui. Mas aí eles me deram a oportunidade e eu sofri bastante, né? Porque era um desafio grande. Eu dei a minha palavra de que eu ia fazer, ia dar certo, então eu sofri um pouquinho porque eu queria fazer tudo do jeitinho que era pra ser.”, relata.

Em Santana, Ricássia morava na Rua São Pedro, conhecida popularmente por “Rua do Peba”. O local é alvo de preconceitos e estigmas. Nas redes sociais, a comunicadora divertes seus ouvintes compartilhando, sempre que possível, os momentos em família cheios de simplicidade no seu lugar de origem.

INSPIRAÇÃO E EMPODERAMENTO

O famoso bordão “Solta o cabelo e vem ser feliz!” foi criado pela irmã de Ricássia, Micaele. Ela diz que essa mensagem já transformou a autoestima de diversas ouvintes. “Uma amiga me relatou que conviveu com uma mulher durante a infância e a adolescência e ela sempre usou o cabelo curtinho. Aí essa minha amiga disse que encontrou essa senhora na rua e ela estava com o cabelo grande. Ela se surpreendeu e quando perguntou o porquê dela ter deixado o cabelo crescer, ela respondeu que é porque queria ser feliz igual a mulher da rádio fala.”.

Por ser um meio de comunicação popular, Ricássia diz que muitas empresas têm preconceito em exibir sua marca no rádio. “O rádio não é valorizado da forma que tem que ser e tem um certo preconceito. Eu já fui negociar e ouvi de uma empresária na cara dura que ‘rádio é coisa de empregada doméstica’. E eu olhei pra ela e disse: ‘que bom, né? Só assim ela fica sabendo dos direitos dela’. Eu me recusei de continuar a negociação.”, conta.

Atualmente, Ricássia continua transmitindo a sua essência através do rádio. Ela faz parte do time da Som Zoom Sat (106.5) e está no ar de segunda a sexta-feira, das 08h00 às 12h00 com o programa “Show Popular”.

Fonte/Jornalista renata linard•