sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Acusados de estupro no Ceará levam em média três anos para serem julgados

O tempo médio entre a abertura e o julgamento de processos por estupro e estupro de vulnerável no Ceará é de 1.162 dias, o equivalente a mais de três anos, segundo o Tribunal de Justiça do Estado (TJCE). Profissionais ligados ao Judiciário e psicóloga apontam os danos causados às vítimas pela espera.


Em 2020, até outubro, 1.515 processos judiciais por estes crimes foram a julgamento, conforme levantamento do TJCE solicitado pelo G1. Em paralelo, só até junho, 778 pessoas chegaram aos registros policiais após serem estupradas no estado, como consta no Anuário Brasileiro de Segurança Pública.


Dos mais de 1.500 processos julgados até outubro de 2020, pelo menos 454 (menos de um terço) tiveram como sentença a condenação do agressor. Em 2018, foram 1.528 processos e apenas 578 réus culpados; e em 2019, 1.836 casos e 592 condenados. O TJCE explicou ao G1, porém, que os números de condenações podem ser maiores, uma vez que “os filtros de pesquisa não permitem maior precisão” da informação.


Em resumo, o que se vê é que os processos não acompanham o ritmo de novos casos: em 2018 e 2019, foram julgados 3.364 processos por estupro e estupro de vulnerável no Ceará. Nos dois anos, foram registradas 3.762 novas vítimas desses crimes. Em 2020, até outubro, 1.515 casos foram a julgamento; até junho, estatística mais recente disponível, foram novas 778 vítimas, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.


Os estupros são um tipo de violência histórico, atravessado fortemente pela desigualdade de gênero. Por isso, muitos casos sequer chegam aos registros policiais. Alguns acontecem dentro de casa, encorpando a violência doméstica.


Ana* (nome fictício), 49, sofre violência sexual por parte do companheiro há cerca de cinco anos, desde que decidiu que “não queria mais nada, de forma alguma, e ele nunca se conformou”. Há um mês, ela resolveu denunciá-lo e solicitar medida protetiva para que ele saia de casa.


“Ele vinha pra cima de mim à força, e ele por ser homem já tinha vantagem. Eu não tinha como me livrar daquela situação. Ameaçava gritar, mas tinha meu filho em casa, eu não queria expor ele. Eu só chorava, ficava relutando, e ele ficava rindo enquanto fazia. Ele ria de mim. Quando acabava, eu perguntava se ele estava satisfeito com aquilo, porque eu estava com vontade de vomitar”, relembra a mulher, que dorme na sala de casa há dois anos, e acorda diversas vezes com o agressor “puxando o lençol e se masturbando” ao lado dela.


Fonte: G1 CE

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