Quadra chuvosa no Ceará quebra recordes históricos e revela cidades despreparadas
Apesar da quadra chuvosa ter sido a terceira melhor dos últimos 10 anos no Ceará, muitos municípios sofreram e ainda sofrem com o volume de chuvas registrado durante o período. Essa mudança acende um alerta não só para as consequências das mudanças climáticas, mas para a implementação urgente de medidas de adaptação.
De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), entre fevereiro e maio deste ano choveu 621,3 milímetros em todo o estado. Em 2021, durante o mesmo período, o acumulado de chuvas foi ainda maior, com 727,4mm, e em 2019, o número também superou o ano de 2022, com registro de 671,9 milímetros.
Constantemente os alagamentos e enchentes são atribuídos como consequências de desastres naturais, o que tende a isentar ações humanas que contribuem com as mudanças climáticas, as ações da gestão pública e de empresas e a falta de um planejamento urbano realista, que englobe questões sociais.
Somente neste ano, vimos centenas de pessoas desabrigadas e vivendo em situação de risco com a cheia de rios e açudes, como foi o caso de Várzea Alegre. Em abril, choveu 200 milímetros em apenas um dia, o que acarretou no rompimento de barragens e na destruição de estradas e casas da zona rural.
Em Lavras da Mangabeira, as chuvas chegaram a 130 mm, também no mês de abril, e deixou casas, comércios e ruas, totalmente alagados. Famílias tiveram que ser alocadas em abrigos provisórios.
Em Barbalha, também no mesmo mês, as fortes chuvas, uma delas de 150mm, ocasionaram o rompimento de uma das barragens da Chapada do Araripe. A situação foi tão grave, que o município decretou estado de calamidade.
Na capital Fortaleza, o mês de março foi o mais chuvoso desde 1973, com chuvas de 600 milímetros, que pararam o trânsito e inundaram residências.
As imagens são as mesmas: enxurradas em ruas, casas invadidas pela água e lama, buracos, pessoas desabrigadas sem água e sem comida. Com três anos seguidos de muita chuva e os alertas nacionais sobre as consequências das mudanças climáticas, as cidades, que já não foram construídas dentro de um planejamento atemporal, ainda não foram readaptadas ao período em que vivemos.
Desde o primeiro relatório emitido sobre as mudanças climáticas, os cientistas já alertavam sobre as mudanças extremas no clima, fortes chuvas em curtos períodos de tempo, ondas de calor mais intensas e demoradas, e a falta de periodicidade nesses eventos.
Impacto desigual
Apesar das emissões de gases poluentes não serem feitas de forma uniforme entre os países e regiões, as consequências chegam primeiro para as localidades mais vulneráveis. ‘A injustiça climática’ já expôs milhares de pessoas à insegurança alimentar e hídrica em muitos países. No último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), regiões da África, América Latina, Ásia, pequenos países insulares e no Ártico foram apontados como os que deverão ser mais afetados.
O gênero, a cor e a etnia, também são fatores que aumentam a vulnerabilidade. Não é preciso ir longe para analisar o cenário, em todos os municípios do Ceará, citados anteriormente, as áreas mais afetadas foram zonas rurais, periferias e centros, locais onde a maioria da população com renda média baixa reside.
O fato é que as ações de adaptação já deveriam ter sido realizadas, pelas gravidade das situações ocorridas nos últimos meses, além de projetos de mitigação que também devem ser inseridos para evitar que o cenário piore ainda mais no futuro.
Fonte: Miséria.com
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